05/03/2009

Não sei quantas almas tenho

























<<
Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa-Alberto Caeiro
>>







3 comentários:

Isabel José António disse...

Querida Amiga Beatriz Francisca,

Muito obrigado por ter passado na nossa casinha.

E ao vir aqui ver o seu blogue, deparo com um daquele que eu considero o poeta maior de Portugal. O poeta do SER e do NÃO-SER.

É que o SER e o NÃO-SER é a essência de tudo quanto existe. É o TUDO e o NADA que estão contidos no TODO.

Dou-lhe os parabéns pelo bom gosto da escolha.

Voltaremos a cruzar-nos nos comentários dos nossos blogues.

Um abraço

José António

Arnaldo Macedo disse...

......A mosca Albertina,
que ele domesticava,
Vem agora ao papel,com um insecto-insulto,
Mas fingindo que o poeta a esperava...
Quase mulher
e muito mosca,
Albertina quer o poeta para si,
Quer sem versos o poeta.
Por isso fica,mosca-mulher,por ali......
Alexandre O'Neill

Beijos Voadores

Cotovia disse...

...este poema faz-me pensar muito. Às vezes somos tantas coisas, temos tantos pontos de vista, tantas visões...realmente, quantas almas temos?!


Bela escolha.

Eu!!

Eu!!